sábado, 9 de abril de 2011

A noiva e as bagagens


Numa época em que o meio de transporte mais usado ainda eram as
locomotivas, um casal de jovens se conheceram e se apaixonaram com grande
ternura. Porém existia uma diferença entre eles: o rapaz era pobre e lutava
com esforço para sobreviver; a moça era rica e cheia de bens materiais. Seu
pai era fazendeiro muito rico e dono de várias terras.
Um certo dia o rapaz disse à sua amada:
— Preciso viajar. Vou até aquela cidade que tantos falam que faz muita
gente prosperar. Sei que certamente irei conquistar nosso futuro lá.
A moça se entristeceu em seu semblante às vistas do rapaz. Ele esboçou
um sorriso e abriu a palma da mão esquerda. Os olhos da jovem brilharam ao
ver uma grossa e vistosa aliança de noivado.
— Lutei muito para comprar este anel para te dar. Sei que assim não
você não irá se esquecer de mim e vai saber que não te esqueci.
— Não vou te esquecer — falou a moça.
Ele sorriu novamente, esperançoso. Falou:
— Irei para aquela cidade e logo que me firmar lá mandarei um
telegrama escrito onde estou e que podes viajar para lá e me encontrar.
— Ficarei esperando ansiosamente o telegrama — ela disse.
Seis meses se passaram. Os dois se comunicavam apenas através de
cartas. A moça continuava sua vida de luxo ao lado de sua família, enquanto
o jovem lutava na cidade grande, empregado numa metalúrgica, buscando
uma vida melhor para um futuro casamento. Até que um dia ele foi
promovido por sua competência e incessante busca por aprimoramento no
trabalho. Seu patrão lhe disse:
— Não posso mais deixar você onde está, pois merece estar num cargo
mais elevado. — então o colocou como supervisor da fábrica e mais tarde o
escolheu para viajar à outra cidade para implantar nova fábrica. A notícia
transformou-o no homem mais feliz do mundo. Enfim chamaria sua amada.
Após os últimos acertos para a viagem de inauguração, o rapaz escreveu
o telegrama para sua noiva na cidade pequena:
Minha querida,estou escrevendo para pedir-lhe que venha o
mais rápido possível.Fui promovido para gerente de uma nova loja
que iremos inaugurar depois de amanhã. Sei que há um trem saindo
amanhã de manhã da cidade. Tem que pegar este, pois só assim
dará tempo de chegarmos juntos ao local da inauguração. Estou
louco para tê-la ao meu lado para, enfim, casarmo-nos.
Com o telegrama nas suas mãos, ela leu ainda as últimas linhas onde
constava o endereço dele. Ela sorriu e chamou suas criadas para ajuda-la a
arrumar suas malas.
Na manhã seguinte se despediu do seu pai e de sua mãe, esta, em
prantos, disse:
— Você tem certeza de que quer ir, mesmo, minha filha? Não sabe se
realmente ele conseguiu uma vida melhor pra você. E se ele estiver
mentindo?
— Tenho que confiar nele, mamãe.
Após o capataz ter colocado toda a bagagem da moça (ao todo nove
malas grandes e repletas de roupas e jóias de valor) sobre a carruagem o pai
deu-lhe ordem para leva-la até a estação.
Chegaram lá atrasados, e quase não acreditaram quando viram tanta
gente na estação para pegar aquele trem. Por que não reservei as passagens?
Resmungou ela consigo mesmo. Os senhores fardados com o uniforme da
companhia estação anunciaram em voz alta que dentro de poucos instantes o
trem estaria partindo.
— Depressa! — urrou ela para o empregado — Temos que colocar as
bagagens no trem antes que ele parta!
Com todo esforço de capataz fiel, o homem que a acompanhava baixou
toda a bagagem da filha do seu patrão e as colocou próximo ao trem. Já
coberto pelo suor e exausto ele chamou um dos homens fardados que
conferiam as passagens daqueles que subiam no trem. Quando o homem
fitou a quantidade de bagagem que a jovem trazia ele abanou a cabeça
negativamente. Falou a ela:
— Será impossível subir no trem com toda esta bagagem, senhorita.
Sinto dizer que terá de levar apenas duas destas.
— O quê. Não pode ser, meu senhor…
— Infelizmente pode. Há muitos passageiros hoje e também muitas
bagagens, a ponto de impormos uma cota de duas malas por pessoa, apenas.
Por isso, se quiser viajar neste trem terá que levar apenas duas malas.
A moça olhou para toda a sua bagagem e pensou em toda as roupas e
jóias que continham nelas. Lembrou do que a mãe lhe dissera: Não sabe se
realmente ele conseguiu uma vida melhor pra você. E se ele estiver mentindo?
Ela estava preparada se ele estivesse mentindo. Estaria levando jóias e roupas
que venderia se fosse o caso, mas agora, com apenas duas malas… Não seria
suficiente.
Os homens uniformizados gritaram a última chamada. O trem já iria
partir. A jovem então deu a ordem para o capataz:
— Pegue as malas e coloque-as de volta na carruagem. Eu… eu vou
ficar.
No dia seguinte um telegrama chegou às mãos da moça.
Estava escrito:
Minha querida,estou escrevendo para pedir-lhe que não me
procure mais. Meu amigo que recolhe passagens me disse que você
preferiu ficar com suas bagagens a ter de me encontrar sem elas. Não
o culpe nem o chame de fofoqueiro, pois fui eu mesmo que pedi para
que ele inventasse a história da cota das bagagens. Queria ter
certeza de que me amava de fato e verdade mais do que as riquezas
desta vida a que estava tão acostumada. Infelizmente pude ter a
comprovação de que não.
Adeus.
No ano seguinte um jornal local publicou a foto daquele jovem sendo
considerado um dos homens mais influentes do país, e ainda trazia o
anunciado de que se casaria com a filha do dono da empresa que dirigia.

Jesus fala que não devemos ter amor às coisas deste mundo nem nos
conformar com elas (Jo 12:25 e Rm 12:2) (bagagens), mas devemos segui-lo,
ir após Ele (Lc 9:23), pois Ele não nos deixará órfãos (Jo 14:18) ou sem
destino certo (Jo 14:6). Ele cuidará de nós e nos sustentará.
Não ame mais as bagagens deste mundo do que o Noivo. O trem já está
prestes a partir. O que você irá escolher?
Porque nada trouxe para este mundo, e nada podemos daqui levar;
(I Tm 6:7)
Na benção,
Letícia Fernandes